Narrativas contemporâneas do cárcere no Brasil e na Itália: entre a voz do indivíduo e o coro dos prisioneiros


Abstract


Propõe-se a discussão das relações existentes entre a Literatura, a História, a cultura e a língua a partir da análise da escrita do cárcere. Tem-se como objeto Memórias de um sobrevivente, de Luiz Alberto Mendes, Diário de um detento, de Jocenir, e Sobrevivente André du Rap, de André du Rap e Bruno Zeni, obras nas quais vozes subalternas assumem a palavra, recuperando pela via confessional de diferentes modos um passado de crimes e abordando também o presente degradado da prisão, no qual a experiência, muitas vezes coletiva, é narrada a partir de um ponto de vista individual. Os três textos em estudo assumem a forma do testemunho, cuja variante latino-americana, o testimonio, apresenta a voz de um excluído social narrando a experiência da dor a partir do próprio corpo sem deixar de constituir uma denúncia da violência presente na rotina prisional. Tal imbricamento entre a parte e o todo é o que se pretende analisar nos textos selecionados, buscando interpretar seu significado no âmbito cultural, uma vez que os mesmos rompem, de maneiras distintas, com o fechamento tradicional das narrativas autobiográficas. Igualmente se pretende identificar as marcas dessa fusão na tessitura discursiva dos enredos, nos quais a língua o revela. Enraizado na literatura brasileira, o estudo busca ainda realizar um cotejo das narrativas nacionais com a escrita italiana do cárcere, que permite iluminar nossas peculiaridades históricas, culturais e ainda a particular feição de nossa literatura do cárcere.

DOI Code: 10.1285/i9788883051272p2173

Keywords: confissão; autobiografia; testemunho; voz individual; coletividade

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