Um sabá nos trópicos – memórias em confluência
Abstract
O dia 25 de setembro de 1773 marcou o início de um período fantástico na vida do Brasil-colônia, mais especificamente no Grão-Pará e Maranhão. A instalação da derradeira visitação do Santo Ofício a essas partes do Brasil gerou confissões e denúncias. Interessa-nos aqui, aquelas cujo teor, nos permitem classificá-las como fantásticas. Os inquisidores portugueses, falando de um lugar cuja formação ideológica os levava a ver o mundo dialeticamente dividido entre bem e mal, Deus e Diabo, classificavam as práticas coloniais com esse olhar, vendo em tudo que não condizia com as concepções católicas, um traço de pacto demoníaco, um verdadeiro Sabá nos trópicos. O discurso inquisitorial reverberava, assim, nas confissões e denúncias ocorridas nas colônias. Mas as histórias de Sabá são histórias de um outro continente, fruto de histórias e memórias construídas em condições de produção muito diversas das vivenciadas na colônia brasileira. Ao procurar compreender, explicar e classificar a realidade colonial, os inquisidores imprimiram, na leitura que fizeram, memórias suas, estranhas à população local, a quem coube, nesse encontro de imaginários, estabelecer outro gesto de leitura que permitisse a identificação dos elementos oriundos da colônia com o imaginário europeu. Neste trabalho, pretendemos através de um breve panorama de dez denúncias fantásticas, mostrar como o efeito do encontro de imaginários distintos e dos processos de transferência na vida de colonizados e colonizadores contribuíram para a constituição da memória de um sujeito nacional.
DOI Code:
10.1285/i9788883051272p479
Keywords:
memória; transferência; inquisição; processos de identificação
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